09 setembro 2013

Quando ela se olhou no meu espelho.


Ela se acha feia enquanto se olha da cabeça aos pés com o maior olhar de reprovação que já se viu no mundo. Ah, se ela soubesse que quando aparece na minha frente é como se ligassem um holofote e apagassem todas as outras luzes do mundo. Ela tem aquilo que toda mulher tem antes de sair de casa: insegurança pré-encontro. Diz que não tem roupa nenhuma pra usar, se joga na cama bufando pelos cantos e se irrita a ponto de chorar por se sentir gorda e descabelada. Se ela soubesse que top model nenhuma tem as curvas perfeitas dela que se adaptam às minhas mãos no momento em que as cócegas a fazem sorrir de felicidade…

Ela me pergunta o que eu acho dela. E se eu fosse ser sincero demais, talvez ela não acreditasse. Que mulher vai acreditar que eu a vejo como a coisa mais importante do mundo? Pode soar falso quando a gente fala verdade demais. É preciso medir as doses e aplicá-las em pequenas quantidades de tempos em tempos. Ah, se ela soubesse o quanto seus olhos refletem a vida que eu quero ter um dia e como os seus lábios me chamam com paixão e ternura de um modo que eu me perderia em tudo o que ela dissesse com atenção e devoção. Ela brinca de ciranda com meus olhos. Pra lá e pra cá enquanto eu espero pacientemente pelo seu ritual de preparo para um jantar qualquer. Uma hora, duas horas e nem me importo mais se conseguiremos lugar na fila ou se teremos que comer um cachorro-quente na esquina. Ah, se ela soubesse o quanto eu gosto de puxar os cabelos dela e sentir o cheiro deles de manhã cedo quando acordo…

Ela é linda, inteligente, charmosa, encantadoramente minha. Mas se perde em devaneios quando pensa sobre si mesma. Eu diria que essa inconstância gostosa faz parte de toda mulher. Mas não. É dela e só dela. É ela quem chega, tímida e acanhada, e me arranca um sorriso torto de quem não quer sair dali de jeito nenhum. E ela quem joga as pernas por cima das minhas enquanto o filme vai ficando mais chato a cada minuto. E ela mesma quem chora com um final feliz. Dá gosto de estar com uma mulher assim, sabe? Ah, se ela soubesse como o rosto dela reluz todas as vezes em que acredita num final feliz. Me dá vontade de ficar pra sempre e oferecer o meu “pra sempre feliz” pra ela, sem final nenhum. Menina bonita, sabe? Dessas que poderiam facilmente se passar por mocinha de filme romântico e vilã de animação. Ela tem um jeito bobo de não acreditar quando eu digo que ela está magnífica quando prova uma roupa e me pergunta o que eu acho. E daí ficamos mais alguns muitos minutos enquanto ela trava essa batalha com o espelho e eu me divirto com a irritação desnecessária dela. Ah, se ela soubesse quão sexy ela fica todas as vezes que prende o cabelo e veste aquele roupão de seda quando sai do banho para provar uma roupa…

E daí que ela finalmente se arruma e aparece, encantadora, na minha frente. E aquele “que tal?” parece pergunta com a resposta mais óbvia do mundo. É claro que você está da forma mais majestosa que artista algum conseguiria descrever em pinturas, fotografias ou palavras. Garota, você sabe quão maravilhosa você é? Acho que não faz idéia da força que tem nos olhos, no andar marcante, nas pernas torneadas. Nem imagina quão bonitos são teus gestos, a tua tatuagem bem desenhada na panturrilha e a argola no nariz que te deixa com aquele ar de menina indie que gosta de bandas esquisitas. Você nem deve entender o porquê da minha admiração enquanto você traja um vestido florido meio bobo, meio sem graça, que não faz a menor diferença quando o assunto é sobre você. E as pessoas na rua vão perceber. Vão reparar que não tem roupa, nem acessório e muito menos salto alto que possam desbancar uma mulher dessas na minha frente. E a minha boca aberta não é de espanto nem de surpresa: é de constatação. Meu bem, você é algo que eu nem sei dizer direito. Assim, do seu jeito.

Ao amor da minha vida.


De verdade, meu bem, eu não acredito que você exista. E se já comecei pensando assim, boa coisa não vai sair dessa minha carta. O fato é que eu ando meio desacreditado, achando que toda a minha vida amorosa e essas coisas que a gente pode englobar nela são todas umas fraudes. Eu sou uma fraude, pra ser exato. Escrevo sobre amor, faço os outros acreditarem e nem eu mesmo acredito numa única palavra que sai da minha boca. Mas hoje eu estava pensando e cheguei à conclusão de que, se não for por amor, que seja por você.

Que eu te encontre num dia ensolarado, nublado, chuvoso, com névoa e te diga alguma coisa. Que eu te reconheça no momento exato em que puser meus olhos em você. E que você saiba que houve um encontro ali. Que você esteja vestida de vermelho, amarelo, azul, verde, preto e branco. Que você me ache engraçadinho, pelo menos. Quem sabe tímido, quem sabe babaca demais, quem sabe charmoso, quem sabe eu nem te chame a atenção. Mas que você me veja com bons olhos e eles encontrem os meus. Que eu acerte a cor dos seus olhos numa brincadeira qualquer. E que aí você perceba o quanto eu te enxergo em tão pouco tempo. Que você seja amiga de algum amigo, ou a gerente do banco, ou a colega de faculdade, ou a menina bonita da balada, ou filha da amiga da minha mãe. Que você se encante comigo de alguma maneira. Que você se permita me conhecer melhor e saber que eu sou legal, ou que sou interessante, ou que não tenho nada a acrescentar a você, ou que eu sou um completo egoísta, ou que eu tenho um blog bacana que fala dessas coisas bonitas que as pessoas acreditam. Mas que você não seja um ponto final. Que seja as aspas, as reticências, o parágrafo, o travessão. Que você seja.

Que você saiba como eu sou complicado, ou que eu sou desajeitado, ou que eu sei dançar muito bem, ou que eu piso no seu pé porque não sei andar em linha reta, ou que eu detesto o cheiro de queijo ralado. Mas que você decida ficar e me conhecer mais, seja por curiosidade ou porque acha que pode se encontrar no meio da minha bagunça. Que a gente se conheça aos poucos, aos muitos, aos tantos, aos beijos, aos toques, aos olhares, aos filmes de fim de tarde, aos cheiros de perfume novo, aos dias de dormir de conchinha, aos minutos de ligações intermináveis. Que você possa contar comigo, possa dormir comigo, possa brigar comigo. Que você não se arrependa naqueles momentos em que a gente questiona o amor, que você tenha orgulho de me mostrar pras suas amigas e que elas tenham inveja de você. Que eu possa te trazer café na cama, te dar um beijo de surpresa, te ver sem maquiagem, te morder até você ficar sem graça. Que eu não seja odiado pelos seus pais, que eles não me chamem de filho, que seu irmão torça pro mesmo time que eu. Que você me queira como pai dos seus filhos, que você se orgulhe de mim, que você esteja linda quando entrar na igreja.

Que eu possa te fazer sonhar. Que eu possa realizar os teus maiores sonhos e te consolar caso alguma coisa dê errado no meio do caminho. Que eu não saia nunca do seu lado, nem quando você pedir. Que os seus dias de TPM sejam lembrados com risadas e justifiquem aqueles quilos a mais que você ganhar com o brigadeiro. Que você chore bastante. Chore de rir, chore de saudades, chore de alegria. Que eu possa garantir que você não vai se machucar. Que o nosso filho tenha os seus olhos, a sua boca, o seu nariz. Que ele me lembre todos os dias de você. Que a gente caia um pouco na rotina e não mude por isso. Que a gente saia da rotina e se encante com algumas aventuras de vez em quando. Que a gente saiba reconhecer o valor da companhia do outro. Que eu te ame como nunca amei ninguém e que você me modifique da maneira que o seu amor quiser.

Mais importante que isso tudo: que você exista. E que não demore tanto pra chegar na minha vida.

Fonte: Entre Todas as Coisas



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